É muito fácil criticar depois de ver o desenvolvimento das ações e os resultados auferidos, mas antes de dizer que foi mal feito, ou que devia ter sido feito desta ou daquela maneira, ou ainda que é um absurdo ter permitido que tal fato ocorresse, temos que ter em mente, principalmente os que tem formação militar, qual era a missão; quais as hipóteses básicas e quais os objetivos.
Vamos agora fazer uma analise, das muitas que se podem fazer, sem saber, realmente, quais eram os fatores reais que foram considerados.
1. Qual era a situação geral?
Onda de violência exacerbada em todo o no Rio de Janeiro. Criminosos iniciaram série de ataques.
2. Qual a possível missão?
Terminar com a onda de violência.
Estudos de inteligência mostravam que as ações criminosas tinham sua origem no complexo do alemão.
3. Quais os dados conhecidos?
• Dez anos sem a presença do Estado na localidade.
• Cerca de 600 (seiscentos) bandidos escondidos no complexo.
• Difícil acesso a localidade. Ruas estreitas com vielas.
• Possíveis formas de fuga diurnas e noturnas. Caminhos, disfarces, e etc.
• Inferioridade estratégica devido ao terreno e seus obstáculos.
• Grande quantidade de moradores inocentes.
• Modus atuandi dos criminosos em relação a comunidade.
Com base apenas nestes dados, para facilitar a compreensão de todos os leitores, podemos tirar algumas conclusões.
• O contingente das polícias do Rio de Janeiro seria insuficiente para manter a ordem pública em todo o Estado e dar um combate efetivo naquela região.
• Não existem vagas para 600 (seiscentos) criminosos nos presídios do Rio de Janeiro.
• A polícia não dispõe de material específico para ultrapassar, com segurança, os obstáculos nas vias de acesso.
• Mesmo com informantes infiltrados não se tem conhecimento real das condições do terreno, fortificações, esconderijos, barricadas e etc..
• O perímetro de contensão é impraticável com as tropas disponíveis.
• Os criminosos não iriam poupar a comunidade, nem as pessoas, e nem os bens materiais pessoais e públicos.
Junto com a missão estão às condicionantes que chamamos de hipóteses básicas:
• Preservar o maior número de vidas.
• As Forças Armadas só poderão atuar como apoio logístico. Devido a Constituição Federal a atuação das Forças Armadas em um estado nacional, para defesa da ordem pública, leva a Intervenção do Estado.
Vamos imaginar quais são e foram os Efeitos Desejados e Objetivos:
• Efeito Desejado – Terminar com a onda de violência e restabelecer a presença do Estado no Complexo do Alemão.
• Objetivo Permanente – Manutenção da lei e da ordem pública; Fim do crime organizado e do narcotráfico.
• Objetivo Principal – Desarticulação das lideranças e tomada do território.
• Objetivos Eventuais – Aprisionamento de criminosos, recuperação de bens roubados, apreensão de drogas e armas.
Todos os cidadãos fluminenses acompanharam as operações para instalação das outras UPP e sempre foi preferido a não confrontação, era avisado antes o dia da invasão para que fosse diminuída a chance de inocentes serem feridos ou mortos com estas ações. Seria previsível que fosse buscado um modo semelhante nesta operação.
Vamos agora fazer umas considerações para reflexão.
• Teríamos lugar para prender os seiscentos bandidos?
• O que seria melhor o confronto, com um possível massacre de vidas, ou uma saída deixada estrategicamente para um bem maior?
• Tínhamos, realmente, à disposição pessoal suficiente para manter todo o perímetro ideal?
• Quantas vidas foram poupadas e salvas nesta operação?
Bem a verdade é que o Estado retomou o seu território, ocorreu um número mínimo de perdas de vidas humanas, lideres da criminalidade foram presos foi apreendido um grande número de armas e drogas, foi desarticulada uma das regiões que se julgava impenetrável. A vida digna começa a voltar ao Complexo do Alemão.
A operação foi um sucesso!
Tivemos fugas? Sim.
Tivemos desmandos? Estão sendo investigados.
Existem policiais corruptos? Não, o que existe são bandidos ou criminosos infiltrados na Polícia. A condição de policial não admite a ilegalidade.
Criticas a operação? Sempre tem gente para falar depois do fato.
A crítica construtiva vem em silêncio e pelas vias corretas.
Todavia, o mais importante é manter o planejamento inicial sem se deixar levar por acontecimentos pontuais e reconhecer o sucesso deste planejamento em que paulatinamente os criminosos estão sendo presos e seus territórios estão sendo devolvidos à população. Uma guerra se vence com várias batalhas e esta foi mais uma vitória do Brasil e de suas instituições de Defesa e Segurança.
Comandante Pedrosa
Componente do primeiro contingente no Haiti, Oficial do Estado-Maior da Brigada Haiti sob o Comando do General Salvador.
Capitão-de-Mar-e-Guerra RM1 (GM81).
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